[SP-pm] O sexo das empresas

breno breno at rio.pm.org
Sat Dec 17 20:34:09 PST 2011


Concordo que foi muito deselegante manter a thread trocando de
assunto, ainda mais para um tema tão polêmico. Fico feliz que o
empregador tenha entendido tratar-se de outro assunto, e que a
discussão não foi "pessoal" e sim sobre um tema à parte. Fico também
bastante satisfeito em ver que eles receberam muitos currículos, e
torço para que obtenham um profissional de qualidade e valores
alinhados com a empresa.

Mas se toda a conversa descambou simplesmente porque o Blabos
perguntou "paga quanto?", para mim é sinal de que isso é uma ferida
aberta em boa parte dos assinantes da lista.

Que a empresa brasileira nos moldes tradicionais não vai anunciar o
quanto está disposta a pagar já é esperado, e foi muito bem
justificado pelo email do Russo. O que me surpreendeu foi a quantidade
de desenvolvedores que não só parecem conformados como DEFENDERAM esse
tipo de postura!

Que tipo de benefício o desenvolvedor tem quando o salário é "à
combinar", para que tenha rendido tantas mensagens? Outra: se a
resposta tivesse sido, por exemplo, "de 2 a 10 mil reais", teria sido
mais esclarecedora? Ou menos? Você enviaria seu currículo para uma
vaga que pedisse 40 horas por 1K reais? Quão importante é o valor da
remuneração em relação ao desafio proposto e ao crescimento pessoal
potencialmente obtidos com a vaga X ou Y?

Se alguém anunciar oportunidade entre 1K e 5K, será que a sua
pretensão salarial será diferente que para outra vaga, com os mesmos
requisitos, mas que anuncie entre os mesmos 1K e, digamos 7K? Sim?
Não? Depende? Do quê? Será que seu tempo e dedicação valem mais (ou
menos) dependendo de quem está pedindo?

Para mim, uma boa oportunidade de emprego poderia se dar da seguinte
forma no que tange remuneração:

 0) empregador anuncia descrição das atividades e faixa de salário que
está disposto a pagar;
 1) candidato observa vaga e anuncia pretensão salarial;
 2) empregador entra em contato, caso se interesse pelo candidato;
 3) empregador e candidato se encontram e, por meio de
entrevista/avaliação/experiência/chopp/etc chegam a um acordo trabalho
x remuneração que agrade ambas as partes.
 4) PROFIT!! (para ambos os lados)

Ingenuidade? Por quê?

Vamos supor que a decisão do salário seja uma disputa entre empregador
e candidato por trabalho. O empregador que "comprar" trabalho mas, se
oferecer muito pouco, não ganha. Se o candidato pedir muito pelo
produto (trabalho), também não vende. Nenhum desses casos é
interessante para as partes. Como chegar ao valor ideal? O empregador
quer pagar o mínimo possível e o candidato quer cobrar o máximo
possível, e os dois sabem disso. Há muita literatura sobre o tema (os
interessados podem começar em
https://en.wikipedia.org/wiki/Nash_bargaining_game), mas a faixa de
valores em jogo - e não o valor fechado em si - costuma ser conhecida
por ambas as partes de antemão, normalmente relacionadas às
necessidades específicas de cada "jogador", tangíveis e intangíveis.
Agora, se a faixa salarial deve ser revelada logo no primeiro momento
ou não é outra história. Pessoalmente, tenho dificuldade em ver
problemas nisso, pelo contrário: acho que poupa tempo em ambos os
lados.

De qualquer forma, não acho que seja verdade que toda empresa quer
pagar o mínimo. Muitas vêem no bom salário o diferencial competitivo
para atrair novos talentos. Analogamente, me parece ingênuo crer que
todo candidato quer ganhar o máximo. Já *vi* pessoas recusando
oportunidades porque seriam subutilizadas, ainda que ganhando muito
bem. Muitas vezes não é questão de altruísmo, e sim de não se tratar
de uma atividade desafiadora (para ela). Não dá pra generalizar em
nenhum dos dois casos.

tl;dr - para mim, discutir esse tipo de coisa nas listas pode ser útil
sim. Afinal, é um dos principais veículos de comunicação da
comunidade, e já foi estopim para muitas mudanças dentro e fora dela.
Mas se é pra discutir, que seja com maturidade e elegância :)

[]s

-b


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