[Cascavel-pm] Porque o Perl é de certa forma esquecido no Brasil?

Breno G. de Oliveira breno em clavis.com.br
Segunda Fevereiro 20 20:56:04 PST 2006


Nilson Santos Figueiredo Junior wrote:
> On 2/20/06, João Gabriel <jamorreu em gmail.com> wrote:
> 
>>Claro que há esforços para divuga-lo no Brasil, mas a minha curiosidade é:
>>porque ele não é tão popular quanto um Java ou um PHP?

Oi JG, vou tentar responder sua pergunta do meu ponto de vista logo
abaixo...

>>*Já vi membros aqui la lista falarem que pessoas que não sabiam
>>programar em Perl divulgaram fatos errados sobre a linguagem... isso é
>>verdadeiro?
> 

Sim, é verdade. Eu mesmo fiz (e ainda faço) um grande trabalho não tanto
de evangelização, mas de conscientização dentro da minha universidade.
Muitos professores foram da escola C/Pascal, e agora com a Internet,
ficam siderizados com o poder do Java, que ao mesmo tempo em que
introduz a eles o conceito de OO e interação com o usuário via web,
possui uma sintaxe tão familiar, com a mesma estrutura que prende o
programador às regras da linguagem, quanto suas línguas nativas. Dizem
que chega uma idade em que as pessoas dificilmente aprendem idiomas
novos, e isso também se aplica a linguagens de programação. Perl dá a
eles liberdade para fugir da forma, ou melhor, a ater-se a sua própria
forma com todo o poder que desejar, e isso costuma assustar. Daí vem
aquela história de que as pessoas temem o que não compreendem, e por
isso tanta opinião negativa sobre Perl, EMHO.

Eu sou um dos que menos concorda com a idéia de que falta uma grande
empresa por trás do Perl, mas veja só: um programador acostumado com a
boa e velha sintaxe de C e Pascal de repente vê uma empresa como a Sun,
que ele confia há anos, dizendo pra ele: "essa minha linguagem aqui eu
garanto que é boa, e vai trazer pra vc todas as vantagens da programação
orientada a objetos aliada a portabilidade e funcionalidades web! E
mais, é suficientemente parecida com as linguagens que vc já sabe, então
sua curva de aprendizado será menor (o que não necessariamente é
verdade, mas é o que eles ouvem). Que tal? Todo mundo já está se
adaptando. Vcs estão prontos para o futuro?". O mesmo discurso vale para
um gerente de projetos.

Daí vem um aluno (da universidade) ou estagiário (da empresa) e diz:
"tem uma linguagem legal que dá pra fazer um monte de coisa! quer ver?"
e quando o chefe/professor finalmente tem a paciência para ver (quando
tem), o guri mostra logo todas as coisas legais como oneliners que
codificam e decodificam em RSA, o "camel code", e talvez até alguns
golfes ou obfu's. "Legal, mas isso é coisa de doido, não dá pra levar a
sério!" é o que a maioria pensaria se fosse pego com essa abordagem. A
primeira impressão é a que fica, e infelizmente EMHO os programadores
Perl ficam tão entusiasmados com as possibilidades que o Perl te dá que
acabam mostrando a exceção (golfe, obfu's, etc) e não a regra (programas
limpos, vantagens da linguagem sobre outras, poder, OO, modularidade,
CPAN, etc). Por mais ansiosos que fiquemos em mostrar todas as coisas
legais que a linguagem pode fazer, EMHO isso é coisa para fuçadores e
não faz propaganda positiva para gerentes de projetos e professores
universitários, e acaba dando ao Perl a má fama que tem hoje.
Pelamordedeus, não achem que eu quero acabar com obfu's, golfe ou
one-liners, muito pelo contrário!!! Eles são boa parte da diversão do
Perl e da comunidade, e são os melhores exemplos de poder e
flexibilidade da mesma. Só não são o melhor exemplo para professores
(preocupados com clareza, estrutura, etc) e gerentes (preocupados com
escalabilidade e modularidade, etc). EMHO o que falta é uma boa
propaganda para essas pessoas (pq, como o próprio Dave Cross costuma
brincar, "Perl não precisa ir atrás de programadores: bons programadores
cedo ou tarde encontram o Perl" ;)

> 
> PHP é linguagem de baixo custo pra sistemas não complexos. Só o PHP 5
> que começou a ser uma linguagem decente. Não surpreendentemente, quase
> nenhum programador de PHP sabe PHP 5.
> 

Complementando, pouca gente sabe, mas PHP começou como um simples
conjunto de scripts em Perl feitos pelo Lasmus Lerdorf em 1995 para
rastrear acessos a seu currículo online. Do site
http://www.php.net/history temos que:

"PHP/FI, which stood for Personal Home Page / Forms Interpreter,
included some of the basic functionality of PHP as we know it today. It
had Perl-like variables, automatic interpretation of form variables and
HTML embedded syntax. The syntax itself was similar to that of Perl,
albeit much more limited, simple, and somewhat inconsistent."

Mais de uma vez encontrei programadores PHP frustrados com algumas
limitações da linguagem e, quando os apresentei Perl, eles se sentiram
em casa. "Parece um PHP turbinado" - Mal sabem eles ;)


> Tem um artigo do Paul Graham que traz umas idéias de como uma
> tecnologia mal compreendida pelo mercado é a ideal para se basear uma
> startup. No caso dele foi utilizar Lisp para fazer um grande sistema
> web (que depois foi comprado pelo Yahoo e virou o Yahoo Stores).
> 

À título de curiosidade, o artigo chama-se "beating the averages" e pode
ser encontrado em:

http://www.paulgraham.com/avg.html


Curiosamente, em outro texto (gh.html), o Paul Graham diz o seguinte:

"(statistics about) Java being the most popular language can be
misleading. What we ought to look at, if we want to know what tools are
best, is what hackers choose when they can choose freely-- that is, in
projects of their own. When you ask that question, you find that open
source operating systems already have a dominant market share, and the
number one language is probably Perl."


Finalmente, falando em start-ups, uma historinha sobre o Yahoo: o David
Filo (co-fundador do Yahoo) enviou uma mensagem ao Larry Wall pouco
antes do Yahoo entrar no mercado de ações. Ele disse que o Yahoo nunca
teria nem começado sem o Perl, e que como uma forma de retribuição ele
queria saber se o Larry não estaria interessado em comprar algumas ações
baratinhas do Yahoo antes da oferta pública inicial (IPO). Embora ganhar
dinheiro nunca tenha sido uma ambição do Larry, ele aceitou o presente e
comprou algumas ações para sua filha de 14 anos, que foi o suficiente
para pagar toda a faculdade dela!

Essa e outras histórias em "the joy of Perl":

http://archive.salon.com/21st/feature/1998/10/cov_13feature.html


[]s

breno




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